Sem orgulho nem vergonha

Sem orgulho nem vergonha

 

 

Muito tenho aprendido com esses poucos meses atuando na rede pública estadual de ensino. Mais que isso, muito tenho observado como o sistema educacional está deteriorado e viciado – no sentido de um dado de jogo quinado, que já se sabem de antemão os resultados.

 

Uma das conseqüências já é experimentada na atualidade: o inchaço no ensino superior. Porém esse contingente que hoje alcança as universidades nem de longe é – cometendo a gafe da generalização – preparado para as demandas de um curso de graduação. E a questão vai muito além da qualificação, em inúmeros casos, esses estudantes mal sabem ler e compreender uma notícia de jornal.

 

Já ouvi de mais de um aluno, por exemplo, a seguinte frase: “Pra que estudar, Professor? Eu vou é jogar bola e ganhar dinheiro.” Perguntei se ele queria ser aquele jogador que é motivo de chacota nos programas esportivos de rádio e televisão, ou se quer ser um jogador diferente que elabora respostas coerentes em português padrão. Mas recebo a tréplica de que isso não importa, não tem problema. Questiono se eles não têm vergonha com 14 anos de não conseguir ler sem engasgar, gaguejar e hesitar um texto como “O Pato” do Vinícius de Morais, e recebo risos.

 

A progressão continuada tem contribuído demasiadamente para que a situação vá de mal a pior. Estatisticamente, o índice de jovens que completaram o ensino fundamental e médio cresce a cada ano. Em contrapartida, isso não significa que esses formandos dominem os conteúdos básicos correspondentes aos anos passados na escola, ao contrário, não dominam e nem se interessam, visto que de antemão sempre tiveram a certeza de que concluiriam os estudos independentemente do empenho ou pessoal ou das notas.

 

Em outras palavras, crianças e mais crianças, jovens, é toda uma massa que já aprende na escola que no Brasil a certeza da impunidade faz parte do cotidiano e, por conseguinte, é mãe de muitos delitos. Nada mais adequado que aprender na escola! Mas o que esperar dessas gerações que estarão de agora até daqui cinco anos soltas no mundo? Tornando-se maioria, em quem votarão? Como enfrentarão o acirrado mercado de trabalho? Aliás, quem quererá ser professor: pra ficar de palhaço sem nariz vermelho fazendo papel de adestrador fracassado num depósito de crianças e adolescentes sem parâmetros chamado escola?

 

Paulo Roberto Laubé

CABELO

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