Versículo 5 Corinthians 0

 

Cena 1

Após anos de pesquisa, um pequeno detalhe, um fragmento fora descoberto que mudaria todo o panorama. Nem tanto, ainda estava decretado, segundo o calendário que o mundo se encerraria naquele ano, 2012, mas a data estava mal avaliada.

O tempo havia carcomido o formato do símbolo, que indicaria a data exata da previsão ancestral: 4 de julho. Pelo capricho do tempo, esta pequena insígnia, mudaria o numeral arcaico, modificando sua interpretação anterior, que equivocadamente jogava a ocorrência para dezembro.

O antropólogo, porém,  se dedicava ao assunto por pura curiosidade. Não acreditava no que aquele povo teria delineado. No máximo, admitia  uma grande mudança de rumo.

Cena 2

A torcida toda reunida em uníssono. Todos celebravam aquele grande momento e, no estádio,  só havia comunhão. Vai, Curintia! Chupa Boca! É nóis! Estas palavras de ordem, em geral , típicas da congregação.

O jogo ia se estendendo e aquele resultado finalmente levaria o Corinthians, depois de 102 anos, campeão da América. Até um suposto Mundial possuía, contestado por muitos, é verdade, já que não chegara consagrado a partir do título continental.

Todos estavam aflitos, havia um certo receio de exibir mais uma vez a desculpa clássica, genial, é verdade, porém pouco convincente: “Nóis num vive de título, nóis vive de Curintians, mano!”. Deste dia em diante, após os 20 anos de seca e toda uma existência como um time meramente local, esta frase não precisaria mais ser pronunciada.

De repente, um penâlti. “Deus do céu!” diz o pobre segurança que, infelizmente, teve que escutar o jogo pelo rádio. Prometera a si mesmo que se o “Timão” ganhasse, simplesmente não compareceria no trabalho no dia seguinte. Medo, receio, pavor, pânico. A favor de quem seria o pleito? Era a favor do Corinthians!!!!

Imediatamente mais uma questão emerge: quem irá bater? O técnico prevendo o seu momento, prestes a escrever seu nome na história, faz a substituição. Entra Romarinho! E lá está ele, diante do goleiro, frio como um artilheiro deve ser. Inicia a progressão para um chute. Vai de encontro a bola. Porém, um detalhe, a chuteira raspa levemente na grama, modificando o panorama corporal e acontece… a bola que iria ser desperdiçada, por uma leve mudança da trajetória vai de encontro ao gol. 1 x 0.

Neste instante, um corinthiano diria, não existe nada maior do que esta sensação, o Corinthians é maior que tudo na sua vida. Grito, epifania, catarse, celebração. A terra treme por um instante. Mas ainda há medo, receio, pavor, pânico. “É o Boca”.

Cena 3

O segundo tempo inicia truncado. A raça dos argentinos supera toda a emoção e o nervosismo de um time que levava a responsabilidade de um século. Mas o grupo estava fechado, apenas algo maior que eles poderiam toma-los aquela oportunidade. Teria que ser um time superior, um acaso pernóstico ou, quiçá,  os desígnios de Deus.

Mas tudo convergia para o objetivo: mais um gol!!!!! É Jorge Henrique.É nóis! Chupa, porco, peixe e Bambis! O Curintias vai ser campeão!!!!! Está até fácil.

O tempo passava sorrateiramente e marcava 43 minutos do segundo tempo, até que aconteceu o inesperado. O gol do Boca? Não, um tremor de terra que iniciou no estádio mas foi engolindo tudo, monumentos, pessoas, embarcações. A terra se revolveu, como que abocanhando para dentro de si a superfície.

Toda a humanidade estava exterminada até 0s 44 minutos e 30 segundos do segundo  tempo.

Cena 4

Por uma destas razões inexplicáveis,  foi estabelecido em lei divina que todo o Corinthiano iria para o inferno. Não, não é verdade, em  absoluto, que todos são maloqueiros, vagabundos, manos, pelo contrário, as pessoas de bem excediam em muito os maus caráter. Poderia até se dizer que a bondade da maior parte compensaria em muito, os maus feitos dos outros.  Mas Deus também tem suas preferências, assim como elegeu primeiro os judeus, depois aqueles que adotaram Jesus e, mais recentemente, aqueles que cantavam as missas no Padre Marcelo Rossi, por pura simpatia, por igual desrazão, estabeleceu também que todo o corinthiano por definição iria para o inferno.

“Vai, Curintians!” Soava com sua voz grave.

Então os pobres corintianos rumavam em direção ao inferno, que detinha uma dimensão psicológica cruel, adaptando-se aos desejos, preferências e  anseios de cada um, só que ao contrário.

Assim, por uma crueldade sobrehumana, tudo se fez verde. Os diabinhos tinham feições de porco e vestiam o uniforme do Palmeiras.

Alguns torcedores, sem entender, gritavam é campeão, mas o dono do espaço fez o favor de lembrar-lhes que o mundo estava todo encerrado às 23h 43, ainda com o segundo tempo em jogo, o que decretava que o Timão nunca, nunca mesmo a partir de agora, seria campeão da Libertadores.

Vai, Curintians!

Cena 5

Severino, o segurança, acorda de seu pesadelo. Nada disto era real, apenas uma cruel derivação de seu inconsciente. O jogo nem havia começado, mas o Corinthians, ainda, não era campeão da Libertadores.

Bogado Lins

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